quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O templo da colina

A fresca manha encontrara a construção no topo da colina impassível, como se o tempo não tivesse passado para ela, como se seus moradores, aqueles que lhe davam razão de existir, fossem voltar de uma simples caminhada. E talvez por isso o velho subisse a colina todos os dias antes que Azgher pudesse se erguer e acusar-lhe de preguiçoso, ele também se divertia com a familiaridade que adquirira com os deuses outrora tão alienígenas para ele quanto o modo de vida e feições que trazia para os nativos dessa terra que agora ele chamava de lar, pois se aquela casa esperava que seus moradores um dia voltassem era preciso que alguém se dispusesse a cuidar dela e de tudo que ela representava. Era preciso que alguém mantivesse viva a essência daquela casa, daquele ar de familiaridade, da tradicionalidade que emanava dela. Era por isso que para os habitantes das vilas próximas ela era conhecida como a casa do velho Giya enquanto para o velho Giya em questão aquilo era um templo.
Um templo que mantinha viva a tradição de suas vestes simples e vida modesta, nada muita além do que era necessária para manter com o mínimo de dignidade sua vida modesta, vida de guia para todos aqueles que se interessassem pelos valores de uma terra antiga, antiga e violada pelo primeiro assalto de um inimigo que nem o mais capaz e preparado homem pudesse fazer frente, um inimigo além de que qualquer capacidade.
Um inimigo do mundo.
O Venerável Giya como alguns dos que lhe buscavam como guia o chamavam, conhecia os antigos moradores, não eles não eram os antigos moradores por que eles ainda moravam ali, da casa e dizia que ainda podia ouvir-lhes quando andava pelos corredores, que ele mantinha sempre limpo e desobstruídos, e aposentos, dos quais ele não alterava nada os deixando da mesma forma quando foram ocupados pela ultima vez,não,não pela ultima vez mas sim pela vez mais antiga.
A construção com seu telhado com as bordas voltadas para cima e pico do teto pontudo e vermelho. A construção com suas paredes de papel e bambu e seus biombos. A construção com seus vários andares e seu ar de orgulho e certeza sobre o mundo. A construção com seu jardim de arvores de flores vermelhas. A construção com seu ar, ainda que tardio, de casa.
A construção com ares de lar mesmo que, talvez e só talvez, ninguém fosse voltar para habitá-la.
Era por isso que o Velho, era assim que Giya se referia a si mesmo, se levantava antes do mundo para preparar a casa, mesmo que seus moradores tivessem esquecido dela ou mesmo não pudessem voltar, pois ele sabia que o que importava era a certeza que a sua aplicação garantia a casa, e também aos moradores, de que haveria algo ali para quando eles voltassem.
Ainda que o mundo nada soubesse sobre os moradores era o mínimo que se podia fazer por aqueles que decidem abandonar o seu mundo e partir para enfrentar os flagelos que assolavam o mundo de todos.
E, sobretudo, era pela sua honra que ele mantinha aquele templo em reverencia aos moradores.

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